Cristovam Buarque, Tarso Genro e Fernando Haddad: três intelectuais de esquerda entre o dilema dos principios e o realismo político
Supervisor(es): Claudio Suasnábar
Resumen:
Os intelectuais têm sido objeto de estudo em distintas áreas do conhecimento e integram um debate cuja complexidade e importância são inquestionáveis. Esta investigação, sem reclamar elementos novos em uma arena tão transitada, propõe um olhar específico sobre os intelectuais do Partido dos Trabalhadores, objetivando compreender suas tensões e posições, tanto na academia quanto na gestão pública. Privilegiando o recorte da política pública da educação entre os anos de 2003 e 2006, nosso foco de atenção são os intelectuais do PT, Cristovam Buarque, Tarso Genro e Fernando Haddad, seus dilemas e posicionamentos quando à frente da agência orientadora de política educacional brasileira – MEC. Algumas inquietações estiveram presentes na direção deste estudo: quais as tensões e/ou contradições vivenciam tais intelectuais? Qual a continuidade e descontinuidade na argumentação e discurso dos intelectuais em face da realidade da política educacional? Partimos algumas hipóteses: o aparelho do Estado envolve intelectuais que sofrem com as contradições entre sua liberdade de pensamento as demandas das políticas públicas; a gestão política tende a transformar o papel dos intelectuais em funções tecnoburocratas; os intelectuais vivem a tensão entre seus princípios e a orientação da política pública do partido que simpatizam ou militam. A partir de cuidadoso levantamento documental e bibliográfico, articulamos duas linhas de análise: os conteúdos que caracterizam os marcos ou perspectivas teóricas dos intelectuais do PT e a ação política destes, particularmente, junto ao Ministério da Educação, o que permitiu também uma melhor compreensão da política da educação do período. Iniciamos nossa busca de respostas pelo PT, primeiro partido de esquerda, de viés socialista, a assumir a Presidência da República no Brasil, pano de fundo onde transitam os intelectuais em referência. Partido que, no lapso entre a sua fundação junto aos movimentos sociais e sindicais e a ascensão ao poder com o apoio centrista e de antigos e históricos adversários políticos e empresariais, vive suas próprias tensões, continuidades e descontinuidades, fraturas e reconstruções. Compreender as tensões vivenciadas pelos intelectuais do PT, dilemas e conflitos na relação entre a sua visão principista e a realidade da política pública orientada e conduzida por esse mesmo partido, que possui suas próprias contradições, não nos permite explicações rápidas ou a universalização respostas. Assim posto, encontramos em Cristovam Buarque um intelectual autônomo, humanista que advoga em favor de uma modernidade ética e, a exemplo de Sartre “é companheiro de rota” do Partido dos Trabalhadores, subordinando os princípios do Partido aos seus próprios princípios. Utópico e obsessivo pela educação tem sua ação política coerentemente articulada com sua visão de mundo e defesas teóricas. Tarso Genro, por sua vez, defende em sintonia com as orientações do Partido um novo projeto de nação socialista, radicalmente democrático, através de um novo contrato social e da criação de uma nova esfera pública não estatal, que controle e induza o Estado. Sob o olhar da realidade política e da produção e geração de políticas públicas, pode-se inferir sobre a fusão entre o papel do intelectual Tarso Genro e do Partido, o que lhe assegura organicidade, porém sem perder a crítica ao olhar para o próprio PT, investindo energia em dar-lhe um novo rumo, compatível com as transformações da realidade. Em Fernando Haddad identificamos um intelectual cujas produções acadêmicas se ocupam do repensar do legado marxista, mas que se destaca pela atuação na gestão pública, desempenhando funções tecnocráticas e articulando conhecimentos especializados para a formulação e implantação de políticas públicas. Assim, circular no universo dos intelectuais supõe estar aberto à multiplicidade de dilemas, distinção de tensões e particularização da continuidade e descontinuidade dos discursos.
2009 | |
Intelectuales Política gubernamental Educación |
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Universidad de la Empresa | |
RITA | |
https://rita.ude.edu.uy/handle/20.500.12755/200 | |
Acceso abierto | |
CC BY-NC-ND 4.0 |
Sumario: | Os intelectuais têm sido objeto de estudo em distintas áreas do conhecimento e integram um debate cuja complexidade e importância são inquestionáveis. Esta investigação, sem reclamar elementos novos em uma arena tão transitada, propõe um olhar específico sobre os intelectuais do Partido dos Trabalhadores, objetivando compreender suas tensões e posições, tanto na academia quanto na gestão pública. Privilegiando o recorte da política pública da educação entre os anos de 2003 e 2006, nosso foco de atenção são os intelectuais do PT, Cristovam Buarque, Tarso Genro e Fernando Haddad, seus dilemas e posicionamentos quando à frente da agência orientadora de política educacional brasileira – MEC. Algumas inquietações estiveram presentes na direção deste estudo: quais as tensões e/ou contradições vivenciam tais intelectuais? Qual a continuidade e descontinuidade na argumentação e discurso dos intelectuais em face da realidade da política educacional? Partimos algumas hipóteses: o aparelho do Estado envolve intelectuais que sofrem com as contradições entre sua liberdade de pensamento as demandas das políticas públicas; a gestão política tende a transformar o papel dos intelectuais em funções tecnoburocratas; os intelectuais vivem a tensão entre seus princípios e a orientação da política pública do partido que simpatizam ou militam. A partir de cuidadoso levantamento documental e bibliográfico, articulamos duas linhas de análise: os conteúdos que caracterizam os marcos ou perspectivas teóricas dos intelectuais do PT e a ação política destes, particularmente, junto ao Ministério da Educação, o que permitiu também uma melhor compreensão da política da educação do período. Iniciamos nossa busca de respostas pelo PT, primeiro partido de esquerda, de viés socialista, a assumir a Presidência da República no Brasil, pano de fundo onde transitam os intelectuais em referência. Partido que, no lapso entre a sua fundação junto aos movimentos sociais e sindicais e a ascensão ao poder com o apoio centrista e de antigos e históricos adversários políticos e empresariais, vive suas próprias tensões, continuidades e descontinuidades, fraturas e reconstruções. Compreender as tensões vivenciadas pelos intelectuais do PT, dilemas e conflitos na relação entre a sua visão principista e a realidade da política pública orientada e conduzida por esse mesmo partido, que possui suas próprias contradições, não nos permite explicações rápidas ou a universalização respostas. Assim posto, encontramos em Cristovam Buarque um intelectual autônomo, humanista que advoga em favor de uma modernidade ética e, a exemplo de Sartre “é companheiro de rota” do Partido dos Trabalhadores, subordinando os princípios do Partido aos seus próprios princípios. Utópico e obsessivo pela educação tem sua ação política coerentemente articulada com sua visão de mundo e defesas teóricas. Tarso Genro, por sua vez, defende em sintonia com as orientações do Partido um novo projeto de nação socialista, radicalmente democrático, através de um novo contrato social e da criação de uma nova esfera pública não estatal, que controle e induza o Estado. Sob o olhar da realidade política e da produção e geração de políticas públicas, pode-se inferir sobre a fusão entre o papel do intelectual Tarso Genro e do Partido, o que lhe assegura organicidade, porém sem perder a crítica ao olhar para o próprio PT, investindo energia em dar-lhe um novo rumo, compatível com as transformações da realidade. Em Fernando Haddad identificamos um intelectual cujas produções acadêmicas se ocupam do repensar do legado marxista, mas que se destaca pela atuação na gestão pública, desempenhando funções tecnocráticas e articulando conhecimentos especializados para a formulação e implantação de políticas públicas. Assim, circular no universo dos intelectuais supõe estar aberto à multiplicidade de dilemas, distinção de tensões e particularização da continuidade e descontinuidade dos discursos. |
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